quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Use o Cérebro pelo Lado de Fora

Há quem pense que moda é aquilo que ordena a compra periódica de roupas e acessórios caríssimos em lojas conceituadas em Shoppings Centers. Entretanto, o conceito vai além de calças e camisas que custam o PIB do Zimbábue, tendo em vista a própria idéia do que é ter algo como modelo, sem massificar, fazendo da roupa mais do que simples pedaços de pano que cobre as vergonhas (ou admiranças, seja assim se ainda tiver idade ou algo acima da lei [da gravidade, é óbvio]) e sim um outdoor de idéias. Na verdade, como tudo na História, a Moda surge por objetivos econômicos, não só pela venda de idéias, mas pelo Colbertismo, o mercantilismo francês, onde a França acumulava capital através da venda de seu luxo estilizado. Só que todo esse estilo só vai receber um nome é por volta do século XVIII com Luís XV: Moda.
Depois de devidamente rotulada, a Moda ainda sofreria o efeito de outras mais rotulações (e rotações, depois do costureiro francês Jean Paul Gaultier colocar uma modelo obesa, a Velvet, como destaque na apresentação de sua coleção em Paris como clara ironia da Semana de Moda de Madri): teríamos uma série de posições diferentes para as visões da moda (Posição acima do umbigo, a cintura alta; abaixo do umbigo, a cintura abaixo da cintura, a cintura baixa; e é claro a famosa cintura centropeito), como a moda psicótica de Twiggy, que inaugura o conceito de anorexia, e, é claro, em um claro resgate aos ensinamentos de Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo, a Moda como uma Arte.
De fato, o estilista não é aquela pessoa que vive em baladas, boates ou ainda aquele estereótipo de garota fútil ou homossexual de sucesso, é como um pintor que observa sua tela em busca de uma obra-prima. O estilista vê no cotidiano uma alternativa para destruí-lo e depois reconstruí-lo em uma proposta inovadora (ou ainda aquele que vêem em um centro de recuperação para distúrbios alimentares possíveis novas modelos para as suas agulhas azeotrópicas ou, quiçá, eutéticas). A Moda nunca esteve tão em voga quanto nessa transição de séculos exatamente pelo corolário da Globalização: todos querem ser iguais, porém tem de ser diferentes. É no choque entre o coletivismo e o individualismo que temos o surgimento de um novo caminho para o Cult (esqueça Cult como atividade cedeéfica ou nerdótica ou ainda restrita a universitários enlouquecidos provenientes das áreas humanas, veja-o como predisposição de alterar as vias comuns ruídas pós-Strokes).
Assim, ao observar uma peça em mais uma dessas inúmeras lojas de segregação sócio-credicárdia, não mais há apenas o reflexo visual. Há muito mais por trás de uma roupa, coisas que só o cérebro poderá entender. E como disse Alexandre Herchcovitch, estilista brasileiro: “Moda é usar o cérebro pelo lado de fora”. Portanto, use e abuse da sua criticidade (proteja apenas as suas meninges, alguns vírus podem estar por aí).

Daniel M. Fernandes Vilela

4 comentários:

Mara Coradello disse...

Gostaria de convidar você e a seus leitores para a Oficina de Crônicas, na Pedra da Cebola. Mais informações no www.fotolog.com/maracoradello e por e-mail: maracoradello@gmail.com Abraços.

Unknown disse...

(bate entre parênteses) e assopra pelo texto.

muito bom!!

adorei. pensei em escrever sobre isso, mas vc fez primeiro. e fez muito bem.

as suas (observações) irônicas deram um toque mais crítico ao texto, na minha humilde opinião.

o assunto é muito bom, a moda é sim usar o cérebro pelo lado de fora, é expressão, é vestir a obra.
a grande prova disso você vê na rua. é o que chamamos de estilo. usar a roupa para explicitar sua personalidade.

sabe do que mais? acabei de ter idéia para o meu texto. vou-me!

obs: assumir "anarquia" no blog, é assumir feliz essas propagandinhas, como no comentario anterior. hahaha

parabéns pelo texto!
abraços, Daniel.

Anônimo disse...

Uma ótima leitura para quem consome Reef.

:B

Anônimo disse...

É como sempre digo: A moda é excêntrica, por isso é perfeita.

Ótimo post Daniel ^__^ .