terça-feira, 27 de novembro de 2007

Lester Bangs - Rock N' Roll Com Papel e Caneta


"Eles não seriam heróis se fossem infalíveis, na verdade não seriam heróis se não fossem uns cães sarnentos miseráveis, os párias da terra, e mais, a única razão para se construir um ídolo é joga-lo por terra novamente" Lester Bangs


Provavelmente ninguém representou melhor o Rock no mundo da escrita do que Lester Bangs, expoente do chamado New Journalist-do qual fora encaixado no subgênero "Gonzo", Bangs não apenas escreveu como também refletiu e narrou sobre varios acontecimentos e personagens deste fenômeno que tomou de assalto a segunda metade do século XX e chegou no Sec XXI enfraquecido. Alem disso, foi um dos responsáveis por cunhar na mídia os termos "Heavy Metal" e "Punk" dos quais defenderia até a morte(curiosidade: certa vez ele entrou num incendio que ocorrera em sua casa para salvar um disco do PIL). Seus textos tem alta influencia de cultura Beat, principalmente de Burroughs, filosofia e obviamente Rock N' Roll.

Nascido na California em 1948, Bangs foi criado por uma familia de Testemunhas De Jeová. Passou a infância lendo as obras de Verne, Stevenson e Dumas das quais gostava de escrever continuações. Na adolescência passa a ler textos de ficção científica, dos quais naturalmente iriam despertar a preocupação de sua mãe. Já influenciado pelo Beat, começa a mandar textos para a revista Rolling Stone, porém em 1973 é demitido por causa de uma crítica negativa ao Cannet Head- o que rendeu a curiosa explicação dos editores de que Bangs era "desrespeitoso com os músicos" . Mudou-se para Detroit e passou a trabalhar para a revista Creem, esta dava a liberdade de criação que a Rolling Stone não oferecia, onde logo passou a dar asas a seus textos jornalísticos inspirados e a seus termos inovadores. Apos sair da Creem escreveu para publicações como The Village Voice, NME e até mesmo os Los Angeles Times. Morreu em 1982 por overdose de medicamentos.

Homenagens a seu ser não faltam no universo POP. Grupos como REM e Ramones ja o citaram em suas letras. No cinema, Philip Seymour Hoffman o encarnou no filme Quase Famosos, ele é aquele cara que da concelhos ao protagonista do filme.

Lançada no Brasil, a coletânea de seus textos denominada "Reações Psicóticas"- organizada pelo também jornalista músical e amigo Greil Marcus, aborda críticas de discos, entrevistas e finaliza com comentários sobre as mortes de dois dos nomes mais importantes do Rock, Elvis Presley e John Lennon. Todos os textos escolhidos de diversas publicações(com predominancia da Creem) demonstram a capacidade de Lester de escrever sobre Rock N´Roll como ninguem. A frase acima, por exemplo, foi escrita no texto denominado "Vamos Agora Louvar os Famosos Duendes da Morte" dedicado a um encontro de Lester com Lou Reed. Reed é o heroi de Lester. Neste texto ele inicia fazendo comentarios nada elogiosos ao estado atual (para a época) de Reed, logo após um monte de palavrões, reflexões e insultos sobre seu "heroi", ele comessa a narrar o encontro com o "Rei de New York" (como Bowie o chamava), onde da as primeiras impressões da "mulher" de Reed ("Era como a externalização fisica de toda aquela banha e gordura que Lou deve ter perdido quando injetou vitaminas no inverno passado"), sobre frases ditas por um confuso Lou Reed (" 'Sera que a Yoko vai largar o Paul' "), sobre David Bowie (" 'Ele copiou todos os seus Riffs' ") e até sobre conversas sobre música com músicos ("Jesus. Se tem alguma coisa que eu odeio escutar de músicos é papo de música"). Por mais hilária que seja a conversa (lembrete: trata-se de jornalismo Gonzo) a impressão que se tem do bate-papo é de duas pessoas que se admiram e se desprezam, de um heroi e um seguidor e também de dois roqueiros, um da música e outro da escrita.

O lado mais serio e menos "Gonzo" de seus textos é demonstrado num artigo que comemora os dez anos do album "Astral Weeks" de Van Morrison. Para Bangs este é um album de grande importancia na música pop pela capacidade do Artista para reunir em apenas um album jogos verbais, sentimentalismo, lirismo e principalmente a capacidade de se aproximar da "humanidade", o sentimento de desprezo pelo proximo, o isolamento e o conhecimento das ações individuais, para Bangs este disco foi o que obteve maior aproximação com o ser humano. A analize é encerrada com um pedaço de uma lirica de Van e uma poesia de Federico Garcia Lorca.

Como bem demostrado, Lester Bangs não apenas foi um dos maiores jornalistas culturais da segunda metade do Sec XX. Foi também aquele que melhor explicou e desvendou, seja serio ou de forma humorística, o Rock N' Roll. Portanto nada melhor para fechar este texto do que uma frase do próprio Lester, publicada no artigo sobre a morte de Elvis: "Assim, eu não me darei ao trabalho de dizer adeus ao corpo dele. Direi adeus a você."

3 comentários:

Cinéfilo disse...

Ele realmente teve seu valor, principalmente por expressar, de forma contundente, a anarquia e a iconoclastia, mas todos os representantes do "gonzo" são, a meu ver, figuras "marginais" (no sentido mais puro que o termo possa ter). E, como marginais, tiveram pouco alcance. Mailer, Talese, Wolf, que são representantes verdadeiros do new journalism, até simpatizavam com o "gonzo", mas, no fim das contas, mantinham um indefectível desprezo por aquilo que escreviam.

Valeu a postagem, Gabriel.
Vc trabalha com temas específicos, o que exige muita atenção dos seus interlocutores. É isso aí.

Gabriel Caio Corrêa Borges disse...

Que Bangs era marginal, isso ele era assumido(dai sua admiração por Lou Reed). Mas não quero mostra-lo como um dos principais do New Journalist e sim como aquele que definiu o Rock N' Roll no mundo da escrita. Pegue um artigo de qualquer revista musical que seja, da para sentir á influencia de Bangs em cada letra(alguns são até clones mal feitos, como o caso do brasileiro Andre Forastier).

Unknown disse...

Gabriel, que beleza!
você me deixou mais curiosa para ler os textos dele.
valeu pela dica!

você escreve muito bem!

um abraço!